Título: Crescimento da cabeça e resultados neurocognitivos
Objetivo: Descrever a incidência de
mudanças de percentil de perímetro cefálico (PC) e a relação entre extremos da dimensão
da cabeça e alterações no neurodesenvolvimento. Encontrar evidência da utilidade
da medição do PC como teste de rastreio.
Desenho do estudo: Estudo coorte, prospetivo e de
base populacional.
A informação foi obtida do Estudo
Longitudinal de Pais e Crianças de Avon (Reino Unido) que investigou a saúde e
o desenvolvimento de 15247 crianças cuja gestação ocorreu entre 1991 e 1992. Em
10851 crianças, o PC foi medido e registado pelo menos em 2 avaliações
diferentes até aos 24 meses. Aos 8 anos de idade mediu-se o QI através da
Escala de Inteligência de Wechsler para crianças.Foram analisados os processos
médicos das crianças com necessidade de apoio escolar e destes consideraram-se casos
de alteração no neurodesenvolvimento os diagnosticados com dificuldade de
aprendizagem, défices específicos no discurso ou função motora, autismo,
epilepsia, doenças hipercinéticas e de conduta.
A análise estatística foi
realizada com recurso ao IBM SPSS
Statistics para calcular a média do PC, a distribuição normal do PC para
cada idade (2, 9, 18 e 24 meses) e para definir os valores a partir dos quais
se considera micro ou macrocefalia (entre os 2 e os 9 meses e entre os 18 e os
24).
Resultados:
1) Os dados obtidos demonstraram
que cerca de 3%das crianças tiverammedições de PC compatíveis com percentis
acima ou abaixo dos intervalos considerados normais, mas cerca de 75%
apresentou-o apenas numa das medições.
2) Verificou-se que a mudança de
percentilfoi frequente,com cerca de 20% das crianças a cruzar 1 percentil acima
ou abaixo entre as 6-8semanas e os 9 meses, e 15% a cruzar entre os 9 e os
18-24meses. No entanto 75% das crianças, cuja transição de percentil se
registou entre o 2º e o 9º mês, recuperoupara os seus valores habituais até aos
24 meses de idade; dos que não recuperaram, apenas 0.5% manteve valores extremos
(acima do P98 ou abaixo do P2). Não se verificou relação entre cruzamentos de
percentil e alterações neurológicas ou QI baixo.
3) O diagnóstico de distúrbios
neurocognitivos (DNC) foi considerado raro ocorrendo apenas em 4,5% da amostra.Nas
crianças com valores extremos de PC observou-se um aumento do riscode
perturbação do desenvolvimento, necessidades educativas especiais aos 11 anos e
QI baixo,no entanto sem significância estatística. No total das crianças com
macrocefalia e microcefalia apenas houve diagnóstico de DNC em 15% e 9%,respectivamente.
4) Das crianças com diagnóstico
de DNC 93% possuíam valores de PC correspondentes a percentis normais.
Conclusões: Os cruzamentos de percentil de PC
são comuns e na sua maioria transitórios, o que se justifica por erros na
medição e não se associa a DNC.
A existência de valores de PC
fora dos parâmetros considerados normais não é um bom factor preditivo de
problemas do desenvolvimento.
Comentário: Se por um lado se trata de um parâmetro amplamente utilizado nas consultas de saúde infantil, por outro lado, dada a sua baixa sensibilidade e especificidade para DNC, pode conduzir a investigações extensas, com realização de exames desnecessários e elevada ansiedade para os pais.
Sendo este um estudo com uma amostra considerável e representativa da população infantil, apesar de metodologicamente ser muito difícil conseguir manter o rigor na medição de todos os PC, faz-nos refletir acerca da relevância da medição de um dos parâmetros mais frequentemente avaliado ao longo dos primeiros dois anos de vida.
Sendo este um estudo com uma amostra considerável e representativa da população infantil, apesar de metodologicamente ser muito difícil conseguir manter o rigor na medição de todos os PC, faz-nos refletir acerca da relevância da medição de um dos parâmetros mais frequentemente avaliado ao longo dos primeiros dois anos de vida.
Por Sara Magalhães e Érica Rocha, USF Alpha Mouro
Artigo original em: